A Folha perguntou à procuradora Sandra Cureau
o que
ela achava do governador de SP, Alberto Goldman (PSDB), ficar citando
José Serra em seus discursos. A resposta veio na forma de um
camuflado mas óbvio elogio ao presidenciável tucano "Não pode, falando
oficialmente como governador, dizer as coisas boas que Serra fez. Ele
está indicando à população que Serra é a pessoa ideal para governar o
país", disse Cureau. Ela pode ser acusada de abuso de poder.
Convenhamos. A
sub-procuradora-geral
eleitoral Sandra Cureau (foto ao lado) é, no mínimo, uma personagem
folclórica. Trago um exemplo fictício, e depois sigo com o exemplo da
vida real nos ofertado pela procuradora.
Joana chega para Maria e
reclama: "Maria,
você não deveria falar sobre o quanto Pedro é desonesto"
Ora,
o que Joana disse
foi: [Pedro é desonesto] [Você não deveria falar sobre].
Lula fez algo parecido
há dias:
desculpou-se por ter elogiado Dilma em discurso, fazendo novo elogio.
Traduzindo a estratégia
de Lula teríamos:
[Nunca mais direi que] [Sem Dilma, o trem bala não sairia]
A imprensa criticou o
primeiro elogio de
Lula a Dilma e o segundo também. Todo mundo percebeu que Lula fez uma
mea culpa retórica. A procuradora Sandra Cureau também percebeu. E
ameaçou Lula - e Dilma - pela enésima vez.
Logo depois, a rede
informou que Alberto
Goldman estava fazendo o mesmo: utilizando eventos pagos com o dinheiro
do contribuinte para fazer campanha para José Serra.
A Folha de São Paulo,
pautada pela
rede, confirmou, quase que numa mea culpa editorial, que o governador
de São Paulo citou o candidato correligionário dezenas de vezes em seus
discursos.
Foram perguntar à
procuradora o que ela achava disso. A resposta deve entrar para os
anais das curiosidades das eleições de 2010.
Partindo do pressuposto
de que a Folha
transcreveu fielmente a declaração da entrevistada, a procuradora
disse:
"Não pode, falando
oficialmente como governador, dizer as coisas boas que Serra fez. Ele
está indicando à população que Serra é a pessoa ideal para governar o
país."
Desmembrando, teríamos
E1. ["Não pode, falando
oficialmente, como
governador dizer]"
E2. ["as coisas boas
que Serra fez"]
E3. [Ele está indicando
à população que]
E4. ["Serra é a pessoal
ideal para governar o país"]
Os
enunciados 1 e 3 trazem um alerta ao governador Alberto Goldman. Mas os
enunciados 2 e 4 são reafirmações do que Alberto Goldman disse.
Seria muito diferente
se a procuradora,
ouvida pela Folha, dissesse que "O governador não pode, falando
oficialmente, elogiar Serra em público, indicando à população a opinião
dele sobre o candidato do mesmo partido"
O que a procuradora fez
foi embutir um
elogio a Serra numa suposta crítica ao governador. Isso é campanha. E
com o dinheiro do contribuinte.
A
procuradora pode ser denunciada por abuso de poder.
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